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Relatório Apresenta Retrato do Mercado de Trabalho em Angola

Estudo revela dados cruciais que refletem as dinâmicas e desafios do emprego no país

Foi divulgado recentemente o 1.º Relatório do Emprego em Angola, fruto de uma colaboração entre a Jobartis, a CINVESTEC (Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola) e a CRH. Este relatório apresenta informações sobre o estado actual do mercado de trabalho angolano, permitindo uma análise aprofundada deste importante sector.

Um dos principais destaques do relatório é o significativo fosso entre a procura e a oferta de emprego. Em 2023, apenas 11% dos candidatos conseguiram ser absorvidos pelas vagas publicadas, o que representa um afastamento de 89%. Esta discrepância varia entre áreas, sendo mais acentuada em administração (94%) e menor em logística e procurement (42%).

Contrariando a ideia de que é necessária ampla experiência para conseguir emprego, o relatório revela que o grupo com menor afastamento é o dos candidatos com 1 a 3 anos de experiência. Além disso, verifica-se que o afastamento é superior para posições que não exigem formação média ou superior (87% vs. 70%).

Em termos etários, o principal grupo à procura de emprego situa-se entre os 23 e 35 anos, representando 80% dos candidatos. Este dado contraria a noção de abandono escolar precoce para procura de trabalho. Quanto ao género, as mulheres representam apenas 34% dos candidatos, com os homens a constituírem os restantes 66%.

O relatório destaca ainda a diminuição considerável da presença de expatriados e nacionais retornados no mercado de trabalho angolano, com apenas 5,6% dos candidatos a possuírem experiência internacional. Curiosamente, apenas 13% das vagas exigem conhecimento de inglês.

Analisando as diferenças regionais, o afastamento entre procura e oferta é menor nas províncias (63%) do que em Luanda (85%), devido à maior concentração de candidatos a empregos formais na capital. No entanto, 64% dos candidatos mostram disponibilidade para mudar de residência por razões laborais.

O relatório aborda também a questão salarial, apontando para uma enorme dispersão no mercado, com os salários mais elevados a serem 500 vezes superiores ao salário mínimo e 30 vezes acima do salário médio. Esta dispersão é maior nas médias empresas do que nas micro e grandes empresas.

Em relação à rotatividade, a média no mercado angolano é de 32%, sendo superior nas micro-empresas (93%) e decrescente à medida que aumenta o tamanho da empresa, atingindo apenas 6,7% nas grandes empresas.

Apesar dos desafios, o relatório traz sinais positivos, com 58% das empresas a preverem aumentar o número de colaboradores ao longo do ano, o que representa um aumento projetado de 12% na força de trabalho.

Os trabalhadores angolanos demonstram confiança na segurança do emprego, com 60% a considerarem pouco ou nada provável serem despedidos. No entanto, 55% acham provável mudarem de emprego a curto prazo, e metade acredita que, caso necessário, encontraria um novo emprego em menos de 3 meses.

Quanto à satisfação, 79% das empresas estão moderadamente ou muito satisfeitas com o nível técnico dos seus colaboradores, embora esse valor desça para 71% no que toca à satisfação comportamental. Do lado dos trabalhadores, 80% estão satisfeitos com os colegas, 70% com a atividade desempenhada e 64% com a chefia. No entanto, apenas 16% estão satisfeitos com o salário, sendo esta a principal fonte de insatisfação.

De facto, o relatório aponta para uma diferença de 104% entre o salário recebido e o pretendido pelos angolanos, ou seja, estes consideram que deveriam ganhar ligeiramente mais do dobro do que recebem atualmente. Existe uma maior proporção de mulheres (33%) a receber menos de 100.000 AOA do que homens (29%), enquanto nos salários acima de 1 milhão de AOA, os homens praticamente duplicam as mulheres (7% vs. 4%).

Este primeiro Relatório do Emprego apresenta um retrato detalhado e multifacetado do mercado de trabalho angolano, apontando desafios, mas também oportunidades. Será certamente uma ferramenta valiosa para empregadores, trabalhadores e decisores políticos, permitindo tomar medidas informadas para promover um mercado de trabalho mais equilibrado e justo.

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