Como A Yango Está A Ajudar A Resolver O Problema Da Mobilidade Em Angola
Em Abril deste ano, a Yango deu início à sua actividade no mercado angolano.
Com o objectivo de ter o aplicativo presente em todos os smartphones existentes no mercado, a marca apostou numa presença forte nas redes sociais.
A mobilidade é um grande desafio para muitos milhões de Luandenses e a Yango pretende ajudar a mitigar o problema, usando a tecnologia para conectar utilizadores que precisam deslocar-se do ponto A para o ponto B e motoristas de táxis e outros transportes disponíveis, optimizando tempo e recursos.
Para saber mais sobre a marca, falamos com Ivan Mugimbo que é o Director Geral da empresa em Angola.
Qual é a origem da empresa?
A Yango tem origem na Europa. A empresa-mãe é a Yandex, uma tecnológica sedeada na Rússia que opera um motor de busca, similar ao Google, e muitos outros serviços online. A Yandex Taxi é uma empresa separada do grupo, constituída na Holanda, que opera o serviço de mobilidade e gestão de viagens, entregas e compras electrónicas na Europa, Médio Oriente e África.
Como surge o interesse no mercado angolano?
A marca já está presente em vários países africanos como a Costa do Marfim, Senegal, Camarões, Gana, Zâmbia e também na Nigéria. Neste último país, opera com uma marca diferente. Já temos essa experiência na região e por isso Angola surgiu como um mercado natural para a expansão da Yango em África.
Em primeiro lugar porque Luanda, sendo uma grande região metropolitana, tem um grande desafio que é a mobilidade. Não só no centro de Luanda, mas também nas centralidades.
Depois também o número de utilizadores de smarphones com acesso à internet está a crescer, então há também aqui uma oportunidade.
Portanto, existe a necessidade de melhorar a mobilidade e também o crescimento dos utilizadores com acesso a essas tecnologias.
Que diferenciação é que a marca trouxe para o mercado em relação à concorrência existente?
Num estudo feito por nós notamos que muitas das empresas existentes, de táxis personalizados, foram desaparecendo ao longo do tempo por causa do preço. Os preços praticados eram demasiado altos, face à realidade do mercado, e serviam um segmento muito pequeno da população. E esse segmento não é suficiente para suportar o modelo de negócio deste tipo de empresa.
Por isso uma diferenciação introduzida por nós foi a questão do preço. De acordo com os nossos estudos, os nossos serviços são os mais acessíveis do mercado neste momento. Nós praticamos aquilo a que chamamos de “preços justos”, e por isso existe tanta procura pelos nossos serviços.
E como é que a Yango consegue praticar esses preços e manter o negócio?
Um dos motivos tem a ver com o facto de toda a tecnologia usada por nós ser desenvolvida internamente, e não haver necessidade de depender terceiros. Por exemplo, não precisamos de depender de serviços de terceiros como o Google Maps e outros. Isso permite-nos ter uma grande economia de recursos e praticarmos preços mais baixos.
Mas a nossa diferenciação não se fica apenas pelo preçário. O nosso aplicativo também apresenta funcionalidades diferentes. Por exemplo, é possível o passageiro definir na mesma viagem vários destinos diferentes. Não está limitado apenas a ir do ponto A ao ponto B. Pode definir que quer ir de A para B, depois para C e D, tudo na mesma viagem. Outros aplicativos não oferecem esta funcionalidade.
As vantagens anteriores aplicam-se aos passageiros. E em relação aos motoristas?
Falando dos motoristas, o nosso modelo de negócio oferece algo que nós chamamos de bónus e incentivos. Normalmente as empresas deste mercado aplicam um preço único, o que torna difícil “agradar” a ambos os lados do marketplace. Por um lado, preços baixos atraem os clientes, mas afastam os motoristas, que não se sentem compensados pelo valor cobrado. Por outro lado, preços muito altos atraem motoristas, mas afugentam os passageiros, que não estão dispostos a suportar valores demasiado altos para uma viagem.
Na Yango, o modelo é diferente. Oferecemos preços acessíveis para os passageiros, e os motoristas recebem bónus em cima da comissão recebida pelo valor da corrida. Cada corrida que o motorista completa, a Yango dá um bónus. Com esse modelo conseguimos agradar passageiros e motoristas.
Como funciona a gestão da frota e dos próprios motoristas?
A gestão das viaturas e dos motoristas é assegurada pelos nossos parceiros, que são empresas locais, constituídas legalmente. A Yango não gere frotas, disponibiliza a tecnologia a pequenas e médias empresas que queiram rentabilizar as suas viaturas, ganhando uma parte do serviço cobrado ao cliente.
Este modelo facilita a vida das empresas. Na verdade, muitas já tentaram ter um aplicativo próprio. Mas o desenvolvimento da tecnologia é muito caro e leva muito tempo. Mesmo investindo num produto já desenvolvido é muito oneroso e há outras implicações, como manter servidores sempre disponíveis 24/7, que também tem altos custos associados. Portanto, é um negócio que envolve investimentos avultados. Por isso a Yango oferece uma oportunidade às empresas locais de usar o seu aplicativo e terem capacidade de concorrer com as grandes marcas.
O recrutamento dos motoristas é feito então pelos vossos parceiros?
Pela Yango e pelos parceiros. Por exemplo, nós temos agentes a quem nós chamamos de “scouts”, que são prestadores de serviços, que se encontram pelas ruas identificados com a marca e que têm a missão de cadastrar motoristas. Abordam os condutores, falam dos benefícios, dão uma pequena formação. Depois do cadastro, os motoristas são encaminhados para os nossos parceiros. Os parceiros, por seu lado, também fazem o seu trabalho de recrutamento.
Para além dos “scouts”, que são prestadores de serviços, como é constituída a equipa da Yango Angola?
Nós temos uma equipa local com cerca de 15 trabalhadores, todos jovens angolanos, que tratam do dia-a-dia da operação. Temos funções na gestão dos parceiros, que têm que garantir que os parceiros estão aptos a gerir as suas frotas. Temos pessoas focadas em procurar fontes alternativas de parcerias e obtenção de viaturas em outros segmentos, como por exemplo, junto de proprietários individuais ou rent-a-cars, para trazer essas viaturas para o aplicativo da Yango. Temos pessoas focadas na formação dos motoristas. E temos equipas de suporte ao condutor, sempre disponíveis para atender aos motoristas que se desloquem aos nossos escritórios.
Em termos de desenvolvimento tecnológico, existe algum tipo de intervenção da equipa local?
Em relação à tecnologia, a função principal da equipa local é dar suporte e passar informação. O que a equipa local faz também é ouvir os pedidos dos utilizadores do aplicativo e sugerir à equipa internacional o desenvolvimento de novas funcionalidades, em particular aquelas que possam ser específicas para o nosso mercado.
Como é trabalhado o marketing e brand awareness?
A Yango é responsável por todo o marketing e comunicação da marca. Essa é também uma vantagem para os parceiros, que não têm que se preocupar com isso.
Nós trabalhamos sobretudo a comunicação nas redes sociais. Nós consideramos que a atenção das pessoas está principalmente no ecrã dos smartphones, por isso a nossa aposta no online e em particular nas redes sociais.
E em que redes sociais investem mais?
Facebook e Instagram, principalmente.
Conteúdo orgânico e também pago?
Exactamente.
Trabalhamos também com vários influenciadores digitais e alguns bloggers que nos ajudam a divulgar a nossa marca.
Que novas oportunidades é que a Yango prevê para o curto, médio e longo prazo?
Para já, queremos consolidar a operação em Luanda. Mas já temos contactos de outras regiões do país para levarmos o serviço para lá. Já fomos contactados por empresas interessadas em usar o nosso aplicativo, que estão localizadas no Lubango, em Benguela e no Huambo, por exemplo. Por isso, assim que tivermos a operação consolidada em Luanda certamente expandiremos para outras províncias.
Por outro lado, a Yandex, que é a empresa-mãe, oferece muitos outros serviços para além da mobilidade e dos transportes, que poderão ser introduzidos em Angola assim que o mercado estiver pronto. Estamos a falar de serviços de entrega, micro-mobilidade com scooters electrónicas, aluguer de viaturas a partir da app, entre outros.
Os métodos de pagamento disponíveis são um problema a ser ultrapassado?
A tecnologia existe, mas por vezes o mercado não está preparado. É o caso cá em Angola. A nossa plataforma permite que o cliente associe um cartão de crédito ou débito à sua conta, e com isso seria possível pagar a corrida automaticamente, mas é algo que ainda não funciona cá. Actualmente os métodos de pagamento disponíveis são a transferência bancária, directamente para a conta do motorista, alguns motoristas já têm também um terminal de pagamentos automático (TPA) e pagamentos em dinheiro, que muitas vezes origina problemas com o troco. Há ainda clientes que utilizam métodos ainda mais alternativos como o levantamento sem cartão nas ATMs.
Neste momento estamos a conversar com a EMIS e empresas parceiras para disponibilizar uma solução de pagamentos por referência.
O que pode ser feito para melhorar o sector da mobilidade?
Para além do serviço de mobilidade que nós prestamos, temos outros projectos a decorrer. Estamos em conversações com a AGT, Ministério das Finanças e Ministério dos Transportes, no sentido de criar condições para que haja um quadro legal que proteja os trabalhadores que prestam serviços nestas plataformas digitais, tanto em termos de direitos e acesso a serviços financeiros, como em termos de deveres, nomeadamente o pagamento de impostos. Porque são pessoas que, apesar de não terem um emprego dito convencional, geram rendimento e podem contribuir para a sociedade.
Que mensagem final querem deixar para potenciais utilizadores do serviço?
Queremos consciencializar os angolanos que esses serviços vieram para ajudar, são seguros, e que podem ser usados no seu dia-a-dia, para se deslocar para o trabalho ou para qualquer outro destino. Não se trata de um serviço de luxo, como muita gente ainda poderá pensar. E nós demonstramos isso através dos nossos preços.
Para aqueles jovens que hoje se perguntam se devem “investir numa casa ou numa viatura”, a mensagem que que nós queremos deixar é de que podem investir na casa porque das questões da mobilidade nós tratamos.
A paixão pela mobilidade surgiu quando ainda era estudante numa universidade em Joanesburgo. No último ano do curso, ao ter de criar um projecto com impacto para a sociedade, optou por trabalhar o tema da mobilidade, por ser um utilizador da rede de autocarros da cidade. O projecto tinha como objectivo simplificar o modo como a informação sobre os horários e trajectos dos autocarros era disponibilizada aos utentes dos transportes. Para isso desenharam um sistema que integrava GPS em todos os autocarros públicos e os utentes teriam acesso à informação, em tempo real, da rota dos autocarros, através de um aplicativo. E também teriam informação do autocarro correcto a apanhar consoante o seu destino. O projecto acabou por sair vencedor no concurso escolar. Sabendo das dificuldades que existiam no seu país ao nível da mobilidade, ficou o sonho de um dia conseguir ajudar a resolver esse tipo de desafios em Angola.
Mas antes de se juntar à Yango como Director Geral teve uma carreira no mundo da consultoria, na área financeira e no sector petrolífero, sempre com o objectivo de criar soluções tecnológicas para ajudar a resolver os problemas das empresas.