Ao regressar a Angola em 2018, depois de uma década em Portugal, encontrei um país à beira de uma revolução digital. Esta fase embrionária do digital em Angola contrastava com a maturidade que tinha vivenciado na Europa, mas também representava um terreno fértil para inovação e expressão cultural.
Naquela época, as redes sociais em Angola estavam a dar os primeiros passos. A minha experiência em Lisboa, onde já tinha mergulhado no mundo digital, deu-me uma perspetiva única sobre o potencial destas ferramentas em Angola. Vi uma oportunidade de moldar a narrativa digital angolana, incorporando não só a minha formação em Direito e negócios, mas também a minha paixão pela comunicação e cultura, através da criação de conteúdos tanto a título pessoal, como através da página Hanormais, na altura.
O que realmente me fascinou foi a forma como a idiossincrasia angolana começou-se a manifestar nas plataformas digitais. Os memes, por exemplo, tornaram-se uma forma vibrante e incisiva de comentário social. Eles refletem não só o humor angolano, mas também as nuances da nossa sociedade, política e cultura. A habilidade de comunicar mensagens complexas através de um formato tão acessível e viral demonstra a criatividade e agilidade do povo angolano expressa através dos canais digitais. Os memes são em si uma sub-cultura do digital angolano presente no dia a dia dos jovens presentes aí.
O kuduro, por exemplo, um ritmo que é em si uma expressão pura da identidade angolana, também encontrou um novo palco nas redes sociais. Artistas e criadores de conteúdo têm utilizado este género musical para alcançar uma audiência global, mostrando como a cultura angolana é dinâmica e adaptável. O kuduro, mais do que música, é uma linguagem que atravessa fronteiras, conectando Angola ao mundo, desde o TikTok ao Facebook/Youtube, chegando a milhões de pessoas em segundos. Jovens como Baptista Miranda ou Príncipe Ouro Negro, são hoje, por causa do digital, estrelas no Brasil, chegando a milhares de jovens, levando a nossa cultura através da música e do humor.
Esta ascensão digital em Angola, contudo, não esteve isenta de desafios. As empresas locais, muitas ainda ancoradas em estratégias de marketing tradicionais, começaram a perceber a necessidade de uma presença digital mais forte. A transformação digital não é apenas uma questão de tecnologia, mas também de mentalidade. A adoção de estratégias digitais inovadoras é crucial para a relevância no mercado global e para a conexão com um público cada vez mais online. Do ponto de vista da proporcionalidade, podemos notar que se em 5 anos atingimos este nível, onde estaremos em 2030? As redes sociais em Angola, como em qualquer outro lugar, trouxeram tanto aspectos positivos quanto negativos. Enquanto muitos se concentram nas consequências adversas, como a propagação de conteúdo impróprio, bullying digital e o declínio da qualidade da língua portuguesa, prefiro enfatizar os benefícios. As redes sociais têm sido uma ferramenta poderosa para o despertar político, económico e social, especialmente entre os jovens. Elas aceleraram o acesso ao conhecimento e à informação, algo que antes levaria muito mais tempo para ser alcançado.
Como dizia, olhando para os próximos cinco anos, prevejo um crescimento exponencial na esfera digital em Angola. A expansão da infraestrutura de internet e o aumento da alfabetização digital são fundamentais para democratizar o acesso à informação. As escolas e universidades têm um papel crucial na preparação das futuras gerações, equipando-as com as competências necessárias para navegar e prosperar neste novo mundo digital.
O governo angolano, reconhecendo esta tendência, tem um papel ativo a desempenhar. Além de melhorar a infraestrutura, deve implementar políticas que incentivem a inovação e o empreendedorismo digital. Esta será a chave para não só acompanhar, mas também liderar em algumas áreas da revolução digital.
A era digital em Angola é uma história de oportunidades e desafios. É uma chance para as empresas e criadores de conteúdo angolanos de mostrarem a sua criatividade, dinamismo e resiliência. Com a mistura certa de políticas governamentais, iniciativas empresariais e criatividade individual, Angola pode não só fazer parte, mas também destacar-se na paisagem digital global. O futuro promete ser digital, brilhante e repleto de oportunidades para crescimento, inovação e uma conexão mais profunda com o mundo, tudo isto ancorado na rica tapeçaria cultural de Angola.
Além disso, a chegada de gigantes tecnológicos como Google e Meta a Angola poderia ser um divisor de águas no cenário digital do país. Semelhante ao que ocorreu no Gana e no Quénia, onde a presença dessas empresas trouxe não só reconhecimento internacional, mas também um significativo impulso económico.
A criação de milhares de postos de trabalho e o desenvolvimento de infraestrutura tecnológica local são apenas algumas das vantagens palpáveis. Tal movimento seria um testemunho do potencial de Angola no palco digital global, atraindo mais investimentos e abrindo novas vias para o crescimento económico.
O universo digital também abre portas para uma miríade de novas profissões e oportunidades de carreira em Angola. Desde copywriters, editores, criadores de conteúdos, a especialistas em marketing digital, o espectro de empregos no setor digital é vasto e variado. A venda de equipamentos e serviços digitais, gestão de redes sociais, desenvolvimento de software e aplicativos móveis, são apenas algumas das áreas em expansão. Estas carreiras representam não apenas empregos, mas também uma cadeia de valor que pode capacitar a população angolana, oferecendo habilidades relevantes e em sintonia com a economia global. Este cenário sugere um futuro onde a tecnologia e a criatividade andam de mãos dadas, promovendo o crescimento económico e a inovação em Angola.
Com a combinação certa de investimentos, formação e políticas governamentais, Angola pode não só integrar, mas também liderar em várias vertentes da revolução digital. O futuro promete ser uma era de oportunidades sem precedentes, onde a tecnologia, a economia e a cultura se entrelaçam, impulsionando Angola a um patamar de destaque global.
Danilo Castro é um empreendedor, autor e influenciador digital, apaixonado por projectos inclusivos e de desenvolvimento juvenil. Começou a trajectória profissional aos 21 anos com a visão de impactar e inspirar jovens. Versátil em comunicação digital, tem experiência em rádio, TV e internet, tendo entrevistado artistas e políticos para disseminar ideias. Formado em Direito com foco em negócios e com pós-graduação em Negócios e Marketing, além de formação em Liderança de Marcas, combina formação académica e experiência diversificada. Fluente em português e inglês, destaca-se pela capacidade de interagir com diversas culturas, impulsionado por uma paixão pela mente humana e história. Com mais de 3.000 horas de conversas com jovens e personalidades, Danilo oferece uma perspectiva única em temas como psicologia, política, economia, sociologia e cultura africana. Co-fundador da plataforma @hanormais, actualmente gere uma empresa focada no sector B2B, mantendo o objectivo de inspirar jovens, com a filosofia de que o esforço supera o talento.