Cheguei à agência hoje e ao cruzar com o primeiro colega do sexo masculino, ouvi: Parabéns! Confesso que fiquei a pensar sobre o que é que ele estava a falar.
Pensou que era o meu aniversário?
Seria pela minha recente promoção?
Ou pela conquista do job que fomos a concurso?
Na verdade, ele referia-se ao Dia da Mulher, aquele dia em que costumamos receber uma rosa ou um chocolate da empresa ou das marcas, e é suposto que abramos um largo sorriso a agradecer pela lembrança.
Escusa-se dizer que todos os dias deveriam ser dia da mulher e bom mesmo seria não precisarmos ter um dia para lembrarmos de que as mulheres ainda ganham menos que os homens para fazer o mesmo trabalho, que muitas ainda são demitidas ou nem são contratadas porque têm filhos pequenos e sofrem assédio moral e/ou sexual.
O que gostava de falar é sobre o que é que os criativos, os accounts, os diretores de agência e os diretores de marketing andam a fazer para modificarem o olhar que costumam dar aos anúncios em homenagem ao Dia da Mulher Angolana e ao Dia da Mulher.
Levante a mão quem ainda dá parabéns!
Agora quem ainda tem imagens fofinhas e a cor rosa na maquete!
Chegou a vez dos que chamam a mulher de guerreira!
Pois, se faz parte de algum desses grupos, é chegado o momento de refletir e rever os seus conceitos.
Deseje um dia feliz, mas ninguém precisa ganhar parabéns pelo sexo que nasceu.
Deseje um dia feliz, mas lembre-se que ainda há milhares de zungueiras a trabalhar na rua e sem a mínima condição ou benefícios trabalhistas porque não têm outra oportunidade e precisam sustentar a família.
Deseje um dia feliz, mas não esqueça que mais de 80% das vítimas de tráfico humano são mulheres e meninas, raptadas e vendidas como mercadoria. Três a quatro são depois vítimas de violência sexual.
Deseje um dia feliz, mas tenha a consciência de que todos os anos 15 milhões de meninas no mundo inteiro são obrigadas a casar. Uma média de 28 por minuto.
Enquanto houver exploração, violência e violação, ainda é preciso haver um Dia Internacional da Mulher. Não para dar flores e parabéns, mas para lembrar-nos que ainda falta muito para as mulheres serem reconhecidas pelo seu papel na sociedade, da qual são parte essencial todos os dias do ano.
Então, deseje um dia feliz, mas antes de tudo, respeite e crie peças publicitárias que exaltem o respeito.
Gislaine Marques, a Gis, é Mestre em Publicidade e Relações Públicas, copywriter, estratega digital e formadora. A sua experiência a trabalhar para grandes marcas nos mercados de Angola, Brasil, Moçambique e Portugal ultrapassa três décadas. Mais informação em caixadegis.com.