Não podemos falar do marketing sem antes falarmos de noções básicas. Para ser mais preciso, marketing é estratégia. As suas outras ferramentas, como o branding e a publicidade, são mecanismos usados para se mostrar e tornar visível o plano, entenda-se a estratégia.
O marketing em Angola está a viver uma transformação, movendo-se para dar maior protagonismo ao talento local num sector historicamente dominado por influências estrangeiras. Especialmente de profissionais brasileiros num passado recente e agora, por profissionais de origem portuguesa, que por razões de língua, primeiro, e por escassez de formação na área, ditam a cultura que caracteriza o posicionamento das empresas e dos seus respectivos segmentos. Estes, por serem provenientes de mercados maduros e com a pretensão de formarem os profissionais locais, o que rara ou poucas vezes acontece, às vezes por alegada falta de interesse ou rigidez de pensamento, têm tido mais hipóteses de conseguir um lugar à mesa das decisões.
Dito isto, as questões que se colocam são: como é que podemos preparar a próxima geração de profissionais de marketing para que Angola não apenas se insira nas tendências globais, mas também se destaque? Quem é a próxima geração de profissionais de marketing?
As instituições de ensino têm de ser o nosso ponto de partida e, em particular, aquelas que oferecem cursos de marketing em Angola desempenham um papel crucial nesse processo. É essencial realizar um diagnóstico profundo dos currículos dos respectivos cursos, para que tenhamos a certeza de que estamos a formar profissionais capazes de competir num mercado global. Para isto, é necessário incluir disciplinas relevantes como: análise de dados, branding estratégico, contabilidade, finanças e, quiçá, até mesmo o dever fiduciário, adicional a outras disciplinas curriculares.
Paralelamente a isto, as parcerias entre universidades e empresas devem ser fortalecidas, o que permitirá uma formação prática e alinhada com as exigências do mercado. Os estágios são fundamentais, pois garantem vantagem em questões de reconhecimento e experiência.
A nacionalidade dos directores de marketing das principais empresas em Angola é também um factor importante a ser considerado. Há já alguns anos, o sector é dominado por profissionais estrangeiros, o que não está errado por factores evocados acima. Porém, é fundamental que as empresas invistam na capacitação de talentos nacionais para que eles assumam posições de decisão e façam este percurso de busca incessante da formação e promoção de profissionais locais.
A aposta em identificar e desenvolver estes talentos não é apenas uma questão de patriotismo, mas também de eficácia, uma vez que os profissionais locais compreendem melhor o mercado, a cultura e as dinâmicas sociais do país. Embora as fórmulas sejam similares, a aplicação das mesmas nem sempre é a mais recomendável. O que, a ser levado em conta, faz com que possamos evitar algumas aberrações tácticas que, além de fora de contexto, são igualmente ininteligíveis e imaterializáveis.
Assim como no sector petrolífero e no sector mineiro, onde as políticas de conteúdo local têm sido amplamente discutidas, o mesmo modelo deve ser aplicado ao marketing. As multinacionais devem ser incentivadas a transferir conhecimento para as suas equipas locais e a investirem no desenvolvimento de profissionais angolanos.
A título de exemplo, Angola pode inspirar-se em países que enfrentaram desafios semelhantes, como os Emirados Árabes Unidos, onde o investimento em educação e a atracção de talentos globais resultaram num mercado vibrante. Além disso, observar mercados africanos próximos, como a África do Sul, o Quénia e a Nigéria, pode oferecer insights valiosos sobre como podemos nós adaptar práticas de marketing inovadoras e enquadradas ao contexto angolano.
“a ligação às pessoas é cada vez mais importante na criação de oportunidades e valores que perdurem no futuro.”
Para formar profissionais de marketing competitivos, é crucial compreender as qualidades que o mercado valoriza; como flexibilidade, inovação e a capacidade de analisar e interpretar dados em tempo real. Os profissionais que conseguirem criar campanhas culturalmente relevantes podem ter alguma vantagem no cenário actual, onde a ligação às pessoas é cada vez mais importante na criação de oportunidades e de valores que perdurem no futuro.
O futuro do marketing em Angola depende de acções concretas, que incluem a identificação de jovens promissores, criar programas de mentoring e hubs que integrem a formação teórica e prática “on job,” a promoção de políticas que valorizem os talentos locais, sem excluir a colaboração de profissionais internacionais, através de estudos de mercados maduros e/ou regionais para ajudar a adaptar práticas eficazes à realidade.
Em suma, para prepararmos a nova geração de profissionais de marketing em Angola, vai exigir de todos nós, enquanto parte, uma mudança de paradigma. É fundamental analisar o passado com uma visão crítica, aprendendo sobretudo com os casos de sucesso.
O marketing em Angola tem a hipótese de ser o motor da transformação económica e social, mas isso requer investimento em educação, valorização do talento local e uma diversificação nas fontes de inspiração ou referência. É preciso estimular a criatividade através de workshops, hackathons de marketing, LAN parties, festivais ou concursos, onde os participantes resolvam desafios de marketing enfrentados e apresentados por empresas locais.
Para memória futura, vale lembrar: o marketing quer dizer estratégia. Esta que é sustentada por pesquisas que geram análises que solidificam a tomada de decisão com base em dados científicos e informação precisa do que se pretende mudar ou alcançar. É igualmente importante que, no domínio da inteligência artificial, big data e automação, se criem condições para que os estudantes apaixonados possam aceder e experimentar estas ferramentas.
Não menos importante, é preciso incorporar estudos de campanhas bem-sucedidas em Angola ou em mercados similares. Isto não só inspira, mas também pode oferecer um modelo prático de aplicação da teoria. Apenas com uma visão clara sobre o que se pretende e acompanhamento constante sobre as tendências do mercado, assim como a colaboração entre empresas e escolas, pode facilitar a adaptação às mudanças e garantir que os profissionais de marketing passem a ser relevantes e estejam preparados para contribuir para o crescimento do país.
O futuro pertence a quem está disposto a inovar e a adaptar-se. Assim, Angola e os angolanos não podem se deixar ficar para trás. Até ao próximo episódio!
Nota: este texto foi escrito por um humano.
Teodoro Fernandes é Diretor de Marketing e Negócios Digitais na UNITEL. Curioso, Iluminado, Apaixonado por ideias.